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terça-feira, 3 de abril de 2012

Stepan Nercessian fala em deixar a política


Abalado com a repercussão de seu envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o deputado federal Stepan Nercessian (PPS-RJ) agora diz que pensa em renunciar ao mandato. O deputado anunciou ainda a desistência da carreira política, não pretendendo mais disputar as eleições para qualquer cargo público. Em entrevista ao GLOBO, Stepan Nercessian disse que, na próxima terça ou quarta-feira, apresentará, na Câmara, as explicações à Comissão de Ética do partido sobre o pedido de empréstimo de R$ 179 mil a Carlinhos Cachoeira.
- Estou analisando com um grupo de amigos do PPS a minha renúncia. Não quero um mandato para me defender. Não quero ficar nesta frigideira por mais dois ou três anos - afirmou Stepan.
O parlamentar disse que foi "ingênuo" ao pedir dinheiro a Cachoeira. Segundo Stepan, R$ 160 mil foram usados para comprar um apartamento porque o banco exigira um comprovante para liberar a quantia. Para não perder o negócio, ele recorreu ao contraventor, mas, ao ter o empréstimo bancário aprovado, dias depois, ele devolveu o montante a Cachoeira. Os outros R$ 19 mil foram gastos para a compra de um frisa na Marquês de Sapucaí para o carnaval deste ano para o próprio Cachoeira.
- Fui muito ingênuo. Não me preocupei com nada. Eu não imaginava que ele (Cachoeira) estivesse envolvido com tanta coisa. Se eu soubesse, jamais pediria o dinheiro - ressaltou o ator. - Estou triste, chateado. Eu não sabia que estava dentro de um esquema desses - completou.
Stepan Nercessian afirmou que não quer se transformar em um "personagem criminal" e não terá mais a "cara de pau" de pedir votos novamente. Ele foi eleito vereador no Rio pela primeira vez em 2004, e foi reeleito em 2008. Dois anos depois, conseguiu uma cadeira na Câmara dos Deputados ao conquistar 84.006 votos.
- Eu não quero ser um personagem criminal. Não fui para lá (Congresso) para isso. Não sei se terei a cara de pau de pedir votos novamente para as pessoas. Os meus eleitores e o meu público devem estar decepcionados. Tenho 44 anos na vida pública como artista - desabafou.
De acordo com o ator, o episódio envolvendo seu nome vai de encontro com o que ele "pensava sobre a política":
- O que está acontecendo comigo é uma controvérsia de tudo que eu pensava sobre a política. Eu achava que a política estava perdendo a dignidade. Agora, isso tudo foi uma ducha de água fria em mim.
O deputado admitiu conhecer Cachoeira há mais de 20 anos e que sempre teve uma relação social com o contraventor. Cachoeira está preso desde o mês passado depois que a Polícia Federal realizou a Operação Monte Carlo, que investiga um esquema de exploração ilegal de jogos de azar em Goiás, estado natal de Stepan Nercessian.
- Quero me defender oficialmente. Ainda não fui convocado oficialmente por ninguém, nem pela Polícia Federal e nem pela PGR (Procuradoria Geral da República) - reclamou o deputado.
O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire, admitiu ao GLOBO na segunda-feira que o partido foi pego de surpresa com o pedido de empréstimo de Stepan Nercessian a Cachoeira.
- Todos nós fomos pegos de surpresa. Até o Stepan - disse Roberto Freire.
Por 12 anos, Stepan Nercessian foi presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversão do Rio (Sated-RJ). Atualmente, o deputado é presidente do Retiro dos Artistas, entidade com sede em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, e que abriga artistas idosos com problemas financeiros, abandonados pela família ou que não tenham onde morar.
Stepan Nercessian já participou de pelo menos 35 filmes. Na televisão, interpretou cerca de 42 personagens ao longo da trajetória artística, a maioria deles em novelas. O ator também é ligado ao mundo do samba. O parlamentar é presidente de honra da escola de samba Difícil é o Nome.
- É lamentável. Se ele disse que é amigo (de Cachoeira), porque é. Eu jamais na minha vida esperava isso dele. O Stepan é meu amigo e precisa se explicar, se justificar, e não ser crucificado - destacou o atual presidente do Sated-RJ, Jorge Coutinho.

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